JEANS BRUTO EM ASCENSÃO
A grande onda de vestuário confortável é uma demanda reforçada pelos movimentos de inclusão e diversidade, que confirma a moda como uma ferramenta de expressão individual e coletiva. Com tanto tempo em casa devido à pandemia, as roupas confortáveis dominaram o guarda-roupa de pessoas de vários estilos mas com os consumidores cada vez mais segmentados por preferências, nichos variados fazem ressurgir itens na contramão dessa macrotendência como é o caso do jeans 100% algodão, um produto considerado premium em confecções internacionais que começa a se fortalecer no mercado brasileiro
Sem elastano e de alta gramatura, o denim em seu estado bruto é matéria-prima para a produção de calças de corte reto, em azul clássico, levemente ajustadas nas pernas e sem beneficiamento algum, sendo a customização na vida real o seu grande diferencial – rasgos, desbotados e outros detalhes são criados pelo consumidor durante o uso no dia a dia, o que cria uma peça de visual único. É por isso que uma peça deste tipo é vendida por até R$ 1.000 nos Estados Unidos – é uma tela em branco que o consumidor customiza com sua história de vida, ampliando o valor emocional da peça e consequentemente sua vida útil. Para alcançar o efeito desejado, a regra é lavar antes do primeiro uso e então só depois de seis meses.
Esse tipo de jeans parece impensável para o clima brasileiro – e os clássicos produzidos no Japão e na Suécia, com zero maleabilidade, realmente são. Mas essa tendência está se consolidando como uma espécie de clube, onde os apreciadores das calças jeans batizadas de “selvedges”, que representam, de uma certa forma, o consumo consciente, a importância do estilo próprio, o desejo por peças exclusivas e a valorização do vintage, são identificados por detalhes de design como as listras nas barras. Dreher 1989 e Krieger são algumas das marcas que adaptaram o modelo para a tropicalidade brasileira.
Majoritariamente masculina, a tendência do jeans bruto revela a maturação do consumidor no mercado da moda e a renovação dos arquétipos da masculinidade – se nos anos 1950 uma calça jeans rasgada era sinônimo da virilidade dos cowboys, nos anos 2020 as marcas no joelho podem representar os momentos incríveis que um pai teve ao brincar com o seu filho ou do tombo que valeu a pena ao testar uma nova manobra no skate. É a moda ressignificando sua linguagem, lado a lado com as mudanças de comportamento.